Cinema

Beleza e penitência

Por Leandro Afonso

 

 

 

 

 

 

Créditos costurados, pedaços de boneca caindo, sangue, grito, uma criança com olho preguiçoso, e um conselho da mãe.

“Se não consegue fazer amigos, construa-os”.

Assim começa May – Obsessão Assassina (May – EUA, 2002), longa de estreia de Lucky Mckee que pode levar muita gente a encontrar metáforas e simbolismos, mas que não é o tipo de filme que se importa mais com um suposto debate posterior que com suas imagens e o que elas têm a dizer.

Existe o conflito, o que leva a personagem a ter um comportamento estranho que, com o decorrer do filme, só piora. Também existe muito sangue e os momentos em que pode ser difícil manter os olhos na tela. No entanto, May não se limita a uma história que envolve vingança e a um visual gore, como milhões de outros aí afora.

Vemos assassinatos estilosos, porém vemos um ser que é tão esquisito, por desejos e falhas pouco usuais, quanto humano, por ter desejos e falhas.

May não é um psicodrama hipster, e sim um filme que usa um gênero (gore), um sentido (visão) e um sentimento base (solidão e derivados), não importa se você conhece ou não o novo sucesso indie da música e do cinema. Sua deficiência e sua criação potencializaram frustrações, mas May sente raiva, desejo e se decepciona, como qualquer ser humano.

Um retrato cruel, como seria inevitável em meio aos problemas que vão da genética à mãe, só que também um retrato doce, e maior prova disso é a última sequência, quando dor, carência e carinho convivem harmoniosamente. É um desfecho que mistura bem beleza e penitência, como o resto do filme.

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