Cinema

Vício, dor e desejo (de vingança)

Por Leandro Afonso

Um exploitation obscuro que muito influenciou Tarantino, uma coletânea de sexo explícito e violência estilizada, uma superlativa vingança sádica, e até uma defesa do mérito e de um sonho.

Thriller: A Cruel Picture (Thriller: em grym film – Suécia, 1974), de Alex Fridolinski como a assinatura de Bo Arne Vibenius, é um filme que pode ser visto de várias maneiras, mas que do início ao fim mantém um norte claro. De um lado e de outro, seu foco é na dor. Não existe vingança sem sofrimento, e Vibenius sublinha essa ideia pela forma como filma os assassinatos e, talvez até principalmente, por como mostra o sexo.

As preliminares oscilam entre o sensual e o grotesco, mas o sexo de fato pouco atrai. É primitivo não por saciar a libido inerente ao ser humano, e sim por ser necessário para sustentar duas coisas sem as quais a personagem não vive. O vício e o desejo de vingança.

Nessa odisseia, um assustador ponto de vista que precede e acompanha rapidamente um estupro, vem seguido de um longo período de penitência da caolha, incluindo aí um close-up no momento em que ela perde visão.

Quando a vingança começa, Vibenius usa e abusa de uma câmera ultra-lenta que remete a Laranja Mecânica (1971), e que parece ter no prolongamento do sangue o ápice do prazer.

A dor sentida por sua personagem, que não consegue mais falar, parece pedir todo aquele excesso. É como se ela dissesse, através de cada tiro, “seu puto, toda essa agonia ainda é pouca”.

Mas ela não diz nada, o que torna tudo mais visual, incluindo aí a última cena, provavelmente uma das mais sádicas da história do cinema.

Nela, depois de quase duas horas de tudo explícito, Vibenius se limita à montagem e à sugestão para finalizar a saga. É um desfecho à altura de toda a raiva, até ali reprimida, que aquela moça tem o direito de sentir.

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